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FEBRE MACULOSA

Quando o indivíduo saudável é picado por carrapato infectado pela bactéria Rickettsia richettsii pode surgir doença sistêmica potencialmente grave.

Essa infecção foi descrita em todo o continente americano.

No Brasil, a doença concentra-se no Sudeste. Há casos relatados em outros Estados: Bahia, Ceará, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul. Relato de maior número de casos ocorre em São Paulo e Minas Gerais.

Trata-se de doença rural e tende a crescer nos grandes centros. A doença não é comum: 40 a 100 casos por ano no Brasil. Em julho de 2023 a Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais confirmou a morte de 5 pacientes por febre maculosa.

Febre alta, dor de cabeça e mal-estar dominam o quadro inicial. Seguem-se lesões de pele, chamadas de máculas (nos membros e tronco) e justificam o nome de febre maculosa.

A doença responde bem ao tratamento com antibióticos. As drogas de escolha são a doxiciclina e/ou o cloranfenicol. Os antibióticos devem ser iniciados antes da confirmação do diagnóstico. Se o tratamento ocorrer após o quinto dia do início dos sintomas a doença agrava-se rapidamente: acomete os rins, o fígado e o coração e com frequência causam a morte. A taxa anual de mortalidade varia entre 15% a 35%.

Carrapatos

No Brasil, o principal vetor da febre maculosa é o carrapato da espécie Amblyomma cajennense, mais conhecido como carrapato estrela (parasitam, mais frequentemente, cavalos, bois e capivaras). Outros carrapatos da espécie Amblyomma já foram descritos no Brasil e são vetores da doença no Brasil (Amblyomma aureolatum em cães) e o Amblyomma dubitatum (comum em capivaras).

Os carrapatos vivem 18 a 36 meses, e uma vez infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii assim permanecem por toda vida.

Transmissão humana

Quando picado por carrapato infectado pela Rickettsia rickettsii, o homem pode adquirir a doença. Não ocorre transmissão da febre maculosa de pessoa-a-pessoa.

Para que a transmissão da bactéria ocorra, o carrapato deve permanecer aderido à pele por 4 a 10 horas.

Os indivíduos com febre maculosa não se recordam, em sua maioria, de terem sido picados por carrapatos. Ao se retirar o carrapato da pele, o esmagamento do vetor libera grandes quantidades de bactérias nos tecidos e sangue podem infectar outras pessoas. Não faça isso.

História

O período de incubação varia de 2 a 14 dias. O quadro inicia-se com febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos.

No início é difícil distinguir a febre maculosa de várias outras doenças febris, incluindo as viroses conhecidas. Em torno do terceiro dia de doença, 90% dos pacientes desenvolvem o exantema (manchinhas avermelhadas de 1 a 6 mm de diâmetro). As lesões costumam surgir nos punhos e tornozelos e migrarem em direção ao tronco. Palmas das mãos e plantas dos pés também são frequentemente acometidos.

Com a evolução da doença as manhas tornam-se violáceas (petéquias) e quando confluem formam placas arroxeadas (equimoses). Cerca da 10% dos pacientes não apresentam erupção cutânea em momento algum da doença.

No momento em que surge o exantema o médico deve suspeitar de febre maculosa. Se a doença não for reconhecida nos primeiros dias ela se agrava. Cumpre iniciar o tratamento prontamente. Caso contrário, ocorrer disseminação da doença, sepse e morte.

Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se em dados clínicos e epidemiológicos (área de casos relatados na região).

A sorologia diagnóstica baseia-se na presença de anticorpos no sangue. Anticorpos IgM e IgG contra o agente só surgem a partir do sétimo dia da doença. Tarde demais. O tratamento deve ser iniciado a partir do quinto dia. O que não é possível. A biópsia de pele ajuda, mas não é encontrado nos locais que exigem resultado rápido e exame sofisticado.

Tratamento

O início do tratamento deve ser feito até o quinto dia da doença. Fazer diagnóstico e usar antibiótico apropriado (doxiciclina) em período curto é raramente cogitado pelo médico.

Quando o tratamento é instituído o medicamento não é mais eficaz (até cinco dias após o início dos sintomas). A doença é grave e evolui muito rapidamente para a morte. Sem tratamento, a taxa de mortalidade da febre maculosa gira em torno de 75%.

Há formas brandas e a doença pode curar-se espontaneamente após 2 ou

3 semanas do início dos sintomas.

A história de picada de carrapatos não indica o tratamento com antibióticos. Estima-se que apenas 1% dos carrapatos em áreas endêmicas estejam infectados.

O início de antibióticos deve seguir a conduta do médico, baseando-se na experiência do terapeuta (conduta difícil, mas não incorreta).

Nos casos graves os antibióticos falham. Os sobreviventes podem apresentar sequelas, como surdez ou paralisia de algum membro.

Fora das áreas não endêmicas os carrapatos não se encontram infectados.

Se o médico ainda tem dúvida sobre o diagnóstico ele deve iniciar o antibiótico adequado (doxiciclina oral ou intravenosa).

 

Referências

HORTA MC et al. Prevalence of antibodies to spotted fever group rickettsiae in humans and domestic animals in a Brazilian spotted fever-endemic area in the state of São Paulo, Brazil: serologic evidence by Rickettsia rickettsia and another Spotted Fever Group Rickettsia. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.71, pp. 03-07, 2004.

DEL FIOL FS et al. A febre maculosa no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, pp. 461-467, 2010.

BIGGS HM, BEHRAVESH CB, BRADLEY KK et al. Diagnosis and Management of Tickborne Rickettsial Diseases: Rocky Mountain Spotted Fever and Other Spotted Fever Group Rickettsioses, Ehrlichioses, and Anaplasmosis — United States. MMWR Recomm Rep 2016;65(No. RR-2):1–44. DOI: http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.rr6502a1external icon.

RODRIGUES VS et al. Carrapato-estrela (Amblyomma sculptum): ecologia, biologia, controle e importância. Comunicado 132 ISSN 1983-9731, Brasília, DF, Dezembro de 2015 (MS). pp. 1-10.

MS. DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS – GUIA DE BOLSO. 8a edição revista. Série B. Textos Básicos de Saúde. BRASÍLIA – DF, 2010. 144p.

Carrapato da Febre Maculosa

Ciclo de vida e outras informações

Carrapato da Febre Maculosa
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Febre maculosa: equimose, mácula, vasculites.

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